A manhã de Natal na Irlanda
Crescer em um país frio tem suas vantagens. Um Natal branco de neve é uma visão que toda criança deveria ter uma vez em sua vida.
Ficar na véspera de Natal olhando pela janela junto com meus irmãos e irmãs na Irlanda é uma de minhas memórias mais vivas sobre o Natal. A neve caía intensamente e já havia formado um tapete branco cobrindo tudo. Conforme a luz dos postes refletia na neve que caía e brilhava como o pó de estrelas ilustrado nos filmes de natal, eu via o trenó do Noel passar – eu tinha certeza.
“Olha, lá está o Papai Noel”, eu gritava para meu irmão mais velho, que respondia com a inevitável frase: “Você é um tonto”.
Naquele momento, minha mãe gritava do andar de baixo: “É melhor vocês pendurarem suas meias de Natal e irem para cama ou o Noel vai pensar que vocês não querem presentes esse ano”. Com aquele pensamento aterrorizante, as meias eram penduradas, beijos e abraços de boa-noite eram dados, enquanto corríamos para a cama para fingir que dormíamos, mas, na verdade, dormir era impossível até que o cansaço vencesse.
Na Irlanda, as crianças são colocadas na cama cedo, tão cedo quanto é humanamente possível para um pai colocar uma criança ansiosa na cama. Os pais ficam acordados para colocar os presentes embaixo da árvore, encher as meias e, é claro, o pai come os doces e bebe o leite que as crianças deixam para Noel, ou o uísque, já que meu pai dizia que era o que o Papai Noel gostava de beber.
Às quatro da manhã ou um pouco mais tarde, eu costumava levar um empurrão, ou um tapa na cabeça de um de meus irmãos mais velho: “Vamos acordar, o Noel passou por aqui”. Nós descíamos correndo as escadas, tentando não acordar nossos pais (se os acordássemos, eles nos mandariam de volta para a cama). A imagem que vinha quando abríamos a porta da sala de estar, nunca vou esquecer. Um fogo que ainda não havia se apagado, uma árvore de Natal brilhante e, embaixo dela, presentes, muitos presentes coloridos, bonitos e fantásticos. Corríamos para conferir os nomes, chacoalhávamos os presentes para tentar adivinhar o que tinha dentro, é claro.
Cinco minutos depois, a sala de estar estava repleta de papel de embrulho, caixas e instruções de brinquedos – essas, nunca líamos. Perto das oito da manhã, minha mãe descia lentamente as escadas e abria a porta. Eu ainda me lembro de seu sorriso amável enquanto seus olhos se enchiam de emoção ao ver seus filhos brincando com alegria e inocência. Os mais velhos corriam até ela, abraçavam e diziam: “Obrigado, mãe, você é a melhor”, enquanto os menores ficavam sentados, confusos, imaginando se realmente tinha sido ela e não o Papai Noel que tinha nos trazido todos aqueles presentes fantásticos. Ela continuava sentada lá e assistia às nossas brincadeiras com aquele sorriso cheio de orgulho enorme no rosto até meu pai acordar. Isso ocorria bem mais tarde, por volta das dez ou onze horas.
Só agora que sou pai percebo quanto trabalho e sacrifício estavam por trás daquelas memórias de infância. Assim como as manhãs perfeitas de Natal que você vê em um filme da Disney, leva meses de economia e preparação para fazer os sonhos das manhãs de Natal se tornarem verdade. Por isso, eu agradeço a vocês, Mãe e Pai. Feliz Natal! Vocês estão cuidando de nós, eu sei que estão.
P.S.: Até hoje, em casa, Noel ainda ama biscoitos e uísque.
Escrito por Stephen Grennan